Política Nacional
PL Antifacção vira briga institucional
Política Nacional
PF se opõe frontalmente a trechos da proposta — incluída na pauta de votações de hoje na Câmara — que tem como relator o secretário de Segurança de Tarcísio de Freitas
Por Alícia Bernardes e Luana Patriolino* – Brasília / DF
Incluído na pauta do Congresso de hoje, o Projeto de Lei Antifacção provocou um forte atrito entre governo e oposição. O texto, relatado pelo deputado Guilherme Derrite (PL-SP), sofreu modificações que limitaram o papel da Polícia Federal em investigações de facções criminosas. Em nota, a corporação alertou para o risco de enfraquecimento do combate ao crime organizado.
Em comunicado divulgado na noite desta segunda-feira, a PF afirmou “acompanhar com preocupação” as alterações feitas no relatório de Derrite e reforçou que não aceitará qualquer tentativa de reduzir sua autonomia constitucional. “Não há e não haverá acordo que implique em supressão das atribuições e autonomia da Polícia Federal. Encaramos com preocupação qualquer manobra para modificar o papel da Instituição no combate ao crime organizado”, declarou o diretor-geral Andrei Rodrigues.
A PF argumenta que as alterações promovem uma “supressão de competências constitucionais” e impactam não apenas o combate às facções, mas também investigações sobre corrupção, tráfico de drogas, desvio de recursos públicos e tráfico de pessoas. A PF cita, como exemplo, a Operação Carbono Oculto, deflagrada em outubro, classificada como “a maior operação contra o crime organizado da história do país”, e alerta que ações desse porte poderiam ser inviabilizadas caso o texto seja aprovado como está.
No governo, o tom é de forte reação. A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou que o relatório de Derrite representa “um salvo-conduto a organizações criminosas” e chamou a proposta de “lei da blindagem, da bandidagem”. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), também criticou o projeto, dizendo que “é o mesmo grupo político que tentou aprovar a PEC da blindagem no ano passado”. Segundo o parlamentar, o objetivo seria restringir o alcance da PF e “criar uma rede de proteção para membros do Parlamento e seus aliados”.
Apesar das críticas, a oposição articula para manter o texto. Derrite, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, sustenta que o objetivo do projeto é “integrar esforços entre estados e União no combate às facções”, mas aliados do governo afirmam que, na prática, as mudanças podem esvaziar o poder da PF e transferir decisões estratégicas a governos estaduais, inclusive de perfil político adversário.
Aumento de penas
O Projeto de Lei Antifacção, proposto pelo Executivo, faz parte do pacote legislativo de segurança pública e prevê o aumento de penas para integrantes de organizações criminosas, além da criação do chamado Marco do Crime Organizado. O texto original foi elaborado para reforçar instrumentos de investigação financeira, ampliar a cooperação entre agências e melhorar o controle sobre o sistema prisional, principais demandas após o avanço das facções em fronteiras e presídios.
A polêmica surge em um momento de alta tensão institucional. A relação entre governo, Congresso e Judiciário está marcada por disputas em torno do protagonismo no enfrentamento ao crime organizado. Moraes, agora relator da ADPF 635 (ADPF das Favelas), tem defendido o fortalecimento da coordenação entre os poderes, enquanto o Executivo tenta impedir que o Legislativo altere pontos considerados sensíveis no combate às facções.
Com a votação do projeto prevista para hoje, cresce a pressão para que o relator ceda e restabeleça o texto original. Nos bastidores, aliados de Hugo Motta dizem que o presidente da Câmara busca um acordo que evite o constrangimento de um embate direto com a PF, que tem forte respaldo popular e institucional. O Planalto, por sua vez, trabalha para adiar a votação até que as divergências sejam sanadas.
Enquanto isso, o país observa a disputa entre forças políticas e policiais que deveria, em tese, estar do mesmo lado. A depender do resultado da votação, o Projeto Antifacção poderá se tornar um marco de cooperação nacional, ou um símbolo de fragmentação no combate ao crime organizado.
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* Correio Braziliense – Conteúdo
* Foto/Destaque: Crédito – Polícia Federal
Política Nacional
Senado aprova PL da Dosimetria, que reduz penas do 8 de Janeiro e beneficia Bolsonaro
Placar foi de 48 votos a favor e 25 contrários
Brasília / DF
O Senado Federal aprovou o projeto de lei (PL) da Dosimetria, que reduz penas dos condenados pelo 8 de Janeiro e beneficia o ex-presidente Jair Bolsonaro. O placar foi de 48 votos a favor e 25 contrários.
O texto agora segue para a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que deve vetá-lo. O Congresso pode votar para derrubar os vetos presidenciais.
O ex-chefe do Poder Executivo, preso na Superintendência Regional da Polícia Federal em Brasília, foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão terá a pena reduzida para 20 anos. O tempo em regime fechado pode cair de seis anos e dez meses para dois anos e quatro meses.
A aprovação ocorre após uma reviravolta na votação do projeto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), em que um acordo entre governo Lula e a oposição permitiu a votação do texto ainda em 2025. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), foi criticado pela articulação.
O PL da Dosimetria caminhava para um fracasso na CCJ, uma vez que brechas no texto permitindo abrandar penas de crimes diversos (como corrupção e importunação sexual, por exemplo) azedaram o clima dos senadores para uma eventual aprovação.
O relator do projeto no Senado, Esperidião Amin (PP-SC), no entanto, conseguiu ver seu parecer aprovado após acolher uma emenda de redação do senador Sérgio Moro (União-PR) delimitando a redução das penas aos envolvidos no 8 de Janeiro. Os senadores divergiram sobre o modo com que a alteração foi feita, no entanto.
A emenda de redação, segundo o Regimento Interno, é aquela que visa sanar vício de linguagem, incorreção de técnica legislativa ou lapso manifesto, sem alterar o mérito da proposição. Sendo assim, no caso de o Senado fazer emendas de redação a um projeto aprovado pela Câmara, não haveria devolução à Câmara.
Como a emenda alterou o escopo do projeto, ele deveria ter voltado à Câmara, mas os bolsonaristas conseguiram emplacá-la como uma mera correção textual. A tese de Amin e de Moro foi de que a mudança visava resgatar a intenção original do PL.
Acordo de Jaques Wagner
Senadores independentes acusaram governo e oposição de fazerem um acordo para permitir a votação do relatório. O presidente da CCJ, Otto Alencar (PSD-BA), contrário ao PL da Dosimetria, chegou a cobrar as lideranças do governo por deixarem-no sozinho defendendo a rejeição do texto.
“Uma hora eu olhei ao redor e pensei ‘nossa, só tem a gente (da oposição) aqui”, disse o senador Carlos Portinho (RJ), líder do PL, após o pedido de vista que atrasou a votação em quatro horas pela manhã.
Renan Calheiros (MDB-AL) protestou contra a votação do texto e criticou o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, de ter sugerido liberar a apreciação do relatório em troca de apoio na votação de um pacote econômico em plenário.
“Há pouco veio aqui o líder do governo no Senado dizer a mim que ele concordava em deixar votar a matéria, porque queria votar o PL que iria elevar as alíquotas de bets e de fintechs”, Renan Calheiros.

PL da Dosimetria agora segue para sanção do presidente Lula. Foto: Carlos Moura / Agência Senado
O senador se referia ao projeto de lei aprovado na Câmara nesta madrugada que reduz benefícios fiscais em 10% e amplia a tributação de casas de apostas e fintechs para aumentar a arrecadação em 2026. O texto deve ser votado no Senado nesta quarta.
Alessandro Vieira (MDB-SE), por sua vez, afirmou que o suposto acordo envolveria até mesmo o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, a quem chamou de “falso herói” por, segundo ele, criticar o PL da Dosimetria e articular sua tramitação nos bastidores.
“Nos bastidores está acontecendo um grande acordo que envolve diretamente o ministro Alexandre de Moraes, que se entende no direito de interagir com senadores e deputados, sugerindo inclusive texto, enquanto na tribuna da Suprema Corte verbaliza o contrário, que o Congresso vai muito mal quando sinaliza para a sociedade. Este texto que estamos votando é fruto de um acordo entre o governo Lula, parte de oposição e o ministro Alexandre de Moraes”, declarou Alessandro Vieira.
Os principais líderes do governo estavam ausentes da sessão na CCJ em razão de uma reunião ministerial com o presidente Lula, mas se manifestaram assim que deixaram a agenda.
Quero deixar bem claro. De nossa parte, não tem nenhuma possibilidade de acordo, seja com anistia raiz, seja com anistia nutella. Não há tolerância para quem comete crime contra a democracia. Vamos para o debate na CCJ pela rejeição do projeto. Se for aprovado na CCJ, nós iremos para o plenário do Senado para derrotar o projeto. Se for aprovado no plenário (…) o presidente Lula vetará esse projeto”, Randolfe Rodrigues (PT-AP)
Jaques Wagner, por sua vez, chamou a responsabilidade para si e afirmou que ele fez um acordo sem consultar a ministra da articulação política do Palácio do Planalto, Gleisi Hoffmann, e o presidente.
Ele diz que o combinado envolvia meramente uma questão “de procedimento”, para que a proposta fosse votada ainda neste ano, e não sobre o conteúdo do texto.
“Assumo aquilo que fiz, de acordo de procedimento, porque acho que não tinha sentido nenhum empurrar (a votação para 2026). Eu não troquei nada, porque no mérito está mantida a minha posição. Fiz (o acordo), e faria de novo. Não negociei mérito, e sim procedimento. A responsabilidade é minha. Se tiverem que bater, que batam em mim”, declarou na CCJ após o projeto ter sido aprovado.
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- Com informações do Estadão – Conteúdo
- Foto/Destaque: Crédito – Jonas Pereira / Agência Senado
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