Escândalo no Governo Lula
Desvios no INSS: fraudadores tiraram dinheiro até de quem já não tinha
Política Nacional
Relatos mostram a injustiça com pessoas que contam apenas com a aposentadoria para comprar itens vitais, como remédios
Por Wal Lima e Maiara Marinho*
Brasília / DF
Paulo Fernandes, 62 anos, morador de Ceilândia Norte, no Distrito Federal é cardíaco. Com metade de seus R$ 4.800 mensais destinados a um plano de saúde, ele ainda precisa arcar com medicamentos caros fora da Farmácia Popular. Mesmo assim, viu sua renda ser corroída por descontos não autorizados.
“Descobri pelo extrato, no site do INSS. Tinha um desconto de R$ 80 em nome de uma empresa que eu nunca ouvi falar. Depois, vi que o Bradesco também descontava um seguro que eu nunca contratei. Foram meses assim, até eu bloquear o débito. Mas ninguém devolveu meu dinheiro”, relata o aposentado. Ele diz que precisou se virar sozinho para entender o que estava acontecendo, e não foi o único.
No interior do Amazonas, no distrito de Lago do Limão, o aposentado Raimundo Coelho, 60 anos, que também é cardíaco e possui limitações em decorrência à saúde, sofreu com descontos que afetaram o seu rendimento mensal.
“No meu caso, eu nem estava recebendo aposentadoria, mas hoje (ontem), fui a uma agência do INSS e, ao puxar meu extrato, percebi um desconto de R$ 30 referente a um seguro que eu não havia realizado e sequer me comunicaram”, disse o morador de região rural do Amazonas.
Paulo e Raimundo são duas vítimas de um esquema que, segundo investigações da Polícia Federal, pode ter afetado milhões de beneficiários da Previdência Social. A Operação Sem Desconto, deflagrada na semana passada, mira justamente essas cobranças indevidas em contracheques de aposentados e pensionistas. De acordo com a Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU), a estimativa é de que pelo menos R$ 6,3 bilhões tenham sido descontados sem o conhecimento de aposentados e pensionistas do INSS.
Pequenos descontos mensais, que passam despercebidos por anos, tornam-se uma verdadeira bola de neve, como alerta a advogada previdenciária Valéria Souza. “R$ 20 por mês pode parecer pouco, mas ao longo dos anos pode ultrapassar R$ 1.000. Isso muda a vida de quem já vive no limite”, disse Valéria.
Ela orienta que todos os aposentados e pensionistas consultem com frequência o extrato de pagamento pelo site ou aplicativo Meu INSS. “Verifiquem cada valor descontado. Se não reconhecerem, liguem para o 135 e registrem reclamação. Guardem os protocolos e, se necessário, procurem um advogado para buscar ressarcimento”, aconselha.
Apesar de a operação estar em curso, com promessas de reembolso, o sentimento comum entre as vítimas é de indignação e desamparo. “A gente trabalha a vida toda para ter um mínimo de dignidade. E aí vem alguém e tira isso da gente, sem a gente nem saber como”, disse Paulo que cobrou mais vigilância, transparência e justiça do Poder Público.
Investigação
Ontem (5/5), a Corregedoria-Geral do INSS abriu Processo Administrativo de Responsabilização (PAR) contra 12 entidades suspeitas de desconto irregular na folha de pagamento de aposentados e pensionistas. Com a medida, o órgão busca comprovar possíveis fraudes e responsabilizar as entidades envolvidas no esquema. As associações que são alvo da investigação do INSS são: Ambec, CBPA, Caap, APDAP Prev, Asabasp, AAPEN, AAPPS, AAPB, ASBrapi, Cebap, Unaspub e APBrasil. Dessas Ambec, AAPEN, Unaspub e Caap também são investigadas pela ‘Operação Sem Desconto’.
O PAR é um instrumento de responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas, previsto na Lei Anticorrupção (Lei no 12.846/2013). A apuração deverá ser concluída em até 180 dias e acontecerá concomitantemente com outras forças-tarefa e investigações que buscam apurar o montante de recursos desviados e as entidades envolvidas.
INSS é réu
Ao longo dos últimos seis anos, a Ouvidoria do INSS recebeu, em média, 14 mil comunicações por ano de irregularidades em descontos associativos. O INSS é réu em ao menos 5.899 processos por descontos indevidos, de acordo com o Painel INSS, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Os tribunais que mais acumulam ações judiciais contra o órgão são o TRF1 (2.189), o TRF5 (1.943) e o TRF3 (887). Desses, 5.548 estão em juizado especial e 351 em 1º grau.
Com isso, observa-se haver uma concentração maior nos tribunais do Distrito Federal e em 21 outros estados, demonstrando a diluição do problema no país.
Embora os tribunais estaduais também registrem processos por descontos indevidos, em menor quantidade, a maior parte deles se concentra nos tribunais federais.
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* Correio Braziliense – Conteúdo
* Foto/Destaque: Reprodução / Redes Sociais
Política Nacional
Senado aprova PL da Dosimetria, que reduz penas do 8 de Janeiro e beneficia Bolsonaro
Placar foi de 48 votos a favor e 25 contrários
Brasília / DF
O Senado Federal aprovou o projeto de lei (PL) da Dosimetria, que reduz penas dos condenados pelo 8 de Janeiro e beneficia o ex-presidente Jair Bolsonaro. O placar foi de 48 votos a favor e 25 contrários.
O texto agora segue para a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que deve vetá-lo. O Congresso pode votar para derrubar os vetos presidenciais.
O ex-chefe do Poder Executivo, preso na Superintendência Regional da Polícia Federal em Brasília, foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão terá a pena reduzida para 20 anos. O tempo em regime fechado pode cair de seis anos e dez meses para dois anos e quatro meses.
A aprovação ocorre após uma reviravolta na votação do projeto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), em que um acordo entre governo Lula e a oposição permitiu a votação do texto ainda em 2025. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), foi criticado pela articulação.
O PL da Dosimetria caminhava para um fracasso na CCJ, uma vez que brechas no texto permitindo abrandar penas de crimes diversos (como corrupção e importunação sexual, por exemplo) azedaram o clima dos senadores para uma eventual aprovação.
O relator do projeto no Senado, Esperidião Amin (PP-SC), no entanto, conseguiu ver seu parecer aprovado após acolher uma emenda de redação do senador Sérgio Moro (União-PR) delimitando a redução das penas aos envolvidos no 8 de Janeiro. Os senadores divergiram sobre o modo com que a alteração foi feita, no entanto.
A emenda de redação, segundo o Regimento Interno, é aquela que visa sanar vício de linguagem, incorreção de técnica legislativa ou lapso manifesto, sem alterar o mérito da proposição. Sendo assim, no caso de o Senado fazer emendas de redação a um projeto aprovado pela Câmara, não haveria devolução à Câmara.
Como a emenda alterou o escopo do projeto, ele deveria ter voltado à Câmara, mas os bolsonaristas conseguiram emplacá-la como uma mera correção textual. A tese de Amin e de Moro foi de que a mudança visava resgatar a intenção original do PL.
Acordo de Jaques Wagner
Senadores independentes acusaram governo e oposição de fazerem um acordo para permitir a votação do relatório. O presidente da CCJ, Otto Alencar (PSD-BA), contrário ao PL da Dosimetria, chegou a cobrar as lideranças do governo por deixarem-no sozinho defendendo a rejeição do texto.
“Uma hora eu olhei ao redor e pensei ‘nossa, só tem a gente (da oposição) aqui”, disse o senador Carlos Portinho (RJ), líder do PL, após o pedido de vista que atrasou a votação em quatro horas pela manhã.
Renan Calheiros (MDB-AL) protestou contra a votação do texto e criticou o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, de ter sugerido liberar a apreciação do relatório em troca de apoio na votação de um pacote econômico em plenário.
“Há pouco veio aqui o líder do governo no Senado dizer a mim que ele concordava em deixar votar a matéria, porque queria votar o PL que iria elevar as alíquotas de bets e de fintechs”, Renan Calheiros.

PL da Dosimetria agora segue para sanção do presidente Lula. Foto: Carlos Moura / Agência Senado
O senador se referia ao projeto de lei aprovado na Câmara nesta madrugada que reduz benefícios fiscais em 10% e amplia a tributação de casas de apostas e fintechs para aumentar a arrecadação em 2026. O texto deve ser votado no Senado nesta quarta.
Alessandro Vieira (MDB-SE), por sua vez, afirmou que o suposto acordo envolveria até mesmo o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, a quem chamou de “falso herói” por, segundo ele, criticar o PL da Dosimetria e articular sua tramitação nos bastidores.
“Nos bastidores está acontecendo um grande acordo que envolve diretamente o ministro Alexandre de Moraes, que se entende no direito de interagir com senadores e deputados, sugerindo inclusive texto, enquanto na tribuna da Suprema Corte verbaliza o contrário, que o Congresso vai muito mal quando sinaliza para a sociedade. Este texto que estamos votando é fruto de um acordo entre o governo Lula, parte de oposição e o ministro Alexandre de Moraes”, declarou Alessandro Vieira.
Os principais líderes do governo estavam ausentes da sessão na CCJ em razão de uma reunião ministerial com o presidente Lula, mas se manifestaram assim que deixaram a agenda.
Quero deixar bem claro. De nossa parte, não tem nenhuma possibilidade de acordo, seja com anistia raiz, seja com anistia nutella. Não há tolerância para quem comete crime contra a democracia. Vamos para o debate na CCJ pela rejeição do projeto. Se for aprovado na CCJ, nós iremos para o plenário do Senado para derrotar o projeto. Se for aprovado no plenário (…) o presidente Lula vetará esse projeto”, Randolfe Rodrigues (PT-AP)
Jaques Wagner, por sua vez, chamou a responsabilidade para si e afirmou que ele fez um acordo sem consultar a ministra da articulação política do Palácio do Planalto, Gleisi Hoffmann, e o presidente.
Ele diz que o combinado envolvia meramente uma questão “de procedimento”, para que a proposta fosse votada ainda neste ano, e não sobre o conteúdo do texto.
“Assumo aquilo que fiz, de acordo de procedimento, porque acho que não tinha sentido nenhum empurrar (a votação para 2026). Eu não troquei nada, porque no mérito está mantida a minha posição. Fiz (o acordo), e faria de novo. Não negociei mérito, e sim procedimento. A responsabilidade é minha. Se tiverem que bater, que batam em mim”, declarou na CCJ após o projeto ter sido aprovado.
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- Com informações do Estadão – Conteúdo
- Foto/Destaque: Crédito – Jonas Pereira / Agência Senado
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