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Herança bilionária deixada por aristocrata para cidade de Vassouras vira alvo de inquérito do MPRJ

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Curiosidade & Conhecimento

O patrimônio histórico e social criado pela 1ª investidora brasileira do século XIX enfrenta abandono e má gestão, enquanto imóveis como hospital e colégio permanecem em estado crítico

Por Victor Serra*

Rio de Janeiro / RJ

Quase um século após sua morte, o destino da fortuna deixada por Eufrásia Teixeira Leite virou motivo de uma investigação recente do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. Reconhecida como pioneira no investimento autônomo no mercado financeiro brasileiro, Eufrásia acumulou um patrimônio que, segundo estimativas de historiadores, ultrapassaria R$ 1 bilhão nos valores atuais — o equivalente a quase duas toneladas de ouro.

Casa onde viveu Eufrásia Teixeira Leite. Busquem sua história! - Avaliações  de viajantes - Museu Casa da Hera - Tripadvisor

Nascida em Vassouras, no antigo Vale do Café, a aristocrata herdou a fortuna dos pais ainda no século XIX e passou a administrá-la com rigor. Investiu em ações de ferrovias, companhias de energia e mineradoras na Europa. Inclusive, foi reconhecida pela ONU como a primeira mulher a investir na bolsa de valores brasileira. Morreu lúcida, ainda a frente de seus negócios, em 1930, na cidade do Rio, por problemas recorrentes nos rins. Nunca se casou e nem teve filhos. A socialite morava em um luxuoso apartamento em Copacabana, que, segundo os mais próximos, sempre foi rodeada de funcionários. Deixou um testamento detalhado, em que determinava a aplicação de sua riqueza em projetos sociais, sobretudo em sua cidade natal.

Carolus-Duran, Eufrásia Teixeira Leite, pintura a óleo, 81,5 cm x 63,3... |  Download Scientific Diagram

Entre as obras viabilizadas com a venda de apólices e ações, surgiram o Colégio Regina Coeli — voltado para meninas órfãs —, um instituto profissionalizante, que mais tarde se tornaria uma unidade do Senai, e o Hospital Eufrásia Teixeira Leite. Todos foram erguidos em terrenos que pertenciam à família. A principal herdeira de sua fortuna foi a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Vassouras, que recebeu também a parte originalmente destinada ao Colégio Salesiano de Santa Rosa, em Niterói, após a recusa da instituição em cumprir as exigências testamentárias. Além disso, valores menores foram destinados à Fundação Oswaldo Cruz, a empregados, parentes e até mesmo a pessoas em situação de rua em Paris, onde Eufrásia viveu parte da vida.

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Com o tempo, parte do patrimônio se desvalorizou. Os rendimentos que sustentariam os projetos sociais foram corroídos por décadas de inflação e má gestão. Hoje, os imóveis históricos enfrentam problemas sérios de conservação. O antigo colégio está desativado, o instituto profissionalizante ocupa um terreno tomado pelo mato, e o hospital — o maior dos edifícios — exibe sinais visíveis de abandono, com infiltrações, umidade e criadouros de insetos.

O inquérito instaurado pelo Ministério Público cita a perda da função social de vários desses bens e aponta falhas na gestão da Santa Casa. A promotora responsável pelo caso, Renata Cossatis, pretende acionar os órgãos públicos para que os imóveis sejam tombados e, assim, protegidos por lei. Também busca responsabilizar os gestores pela deterioração dos espaços.

O testamento da aristocrata previa fiscalização rigorosa do cumprimento das cláusulas, inclusive por parte do juiz e do promotor da cidade. Eufrásia especificou não apenas os valores, mas também os fins de cada aplicação, deixando registrado o desejo de que sua fortuna fosse usada para promover educação, saúde e melhores condições sociais em Vassouras.

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Antiga residência da família transformada em museu

Notícias - Portal Vale do Café Turismo - O Portal de informações turísticas  da região do Vale do Café

Entre as poucas propriedades preservadas está a antiga residência da família, a Chácara da Hera. Tombada e transformada em museu, ela abriga parte da memória do ciclo do café no Vale do Paraíba fluminense. Seu estado de conservação é resultado de uma cláusula que impedia a ocupação do imóvel, protegendo o acervo original.

Na época, mulheres só podiam receber educação voltada para a convenção “familiar”, como costura, pintura e etiqueta. Mas, por nascerem em “berço de ouro”, Eufrásia e sua irmã puderam ter o privilégio de ter uma biblioteca em casa. Ao que tudo indica, seu pai foi um grande incentivador e professor das irmãs Teixeira Leite. 98% dos livros usados pelas irmãs eram escritos em francês. E esse acervo ainda pode ser visto e visitado no museu Hera

A história de Eufrásia, inclusive, já inspirou romances e estudos sobre o papel feminino na economia, o escravismo, a abolição e os bastidores da política imperial. Seu relacionamento com Joaquim Nabuco, abolicionista e diplomata, também foi tema de obras literárias, como Mundos de Eufrásia, A Mulher e a Casa e Um Mapa Todo Seu.

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* Diário do Rio – Conteúdo

* Fotos: Reprodução / DR

 

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Antiga Casa de Farinha recebe restauração em São Mateus

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Local é ponto de comercialização de produtos quilombolas e preserva tradições ancestrais

Um antigo Quitungo, como era chamada a casa de farinha onde os quilombolas processavam a mandioca para fazer farinha, está resistindo ao tempo no bairro Santo Antônio, em São Mateus (ES). A estrutura feita de madeira e preenchida com barro e palha, é mantida até hoje como ponto turístico para preservar a história e cultura dos quilombolas da região. Em abril, o local passou por uma restauração orçada em R$ 140 mil, inteiramente financiada pela empresa Suzano.

A restauração contou com o reparo do telhado e outras estruturas que estavam deterioradas pela ação do tempo, mantendo as características originais da construção, além da substituição de todo o cercado que protege o imóvel. “A estrutura foi erguida no local há mais de cinquenta anos, trazida de uma fazenda do interior do município. A idéia foi aproximar os produtos quilombolas da população da cidade. O projeto foi viabilizado na época pela então empresa Aracruz Celulosa, hoje Suzano”, conta o quilombola Luiz Laudêncio.

Antiga Casa de Farinha recebe restauração em São Mateus – FA NOTÍCIAS |  Notícias de São Mateus e Espírito Santo

O Quitungo é mantido por nove famílias da Associação Quilombola Bom Pastor, que recebem os visitantes e comercializam no local diversos produtos derivados da mandioca, como o Beiju na Palha de Banana, Beiju de coco, Beiju de Amendoim, Farinha de Mandioca, dentre outros. O local funciona todas as sextas-feiras e sábados, das 6h às 18h, e aos domingos das 6h às 13h, e já virou um ponto tradicional para compra dos alimentos fresquinhos preparados pelas famílias tradicionais quilombolas.

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No local, os visitantes podem conhecer como funcionava um engenho de farinha de mandioca nos antigos quilombos da região, além dos equipamentos usados no passado, como a Bolandeira – uma grande roda de madeira, tocada por uma junta de bois ou cavalos, usada para ralar a mandioca –, a prensa fabricada em uma tora de madeira escavada, o forno de barro, o cocho e outros itens antigos.

Segundo o consultor de Relacionamento Social da Suzano, Narcisio Luiz Loss, a empresa tem diversas iniciativas junto às comunidades quilombolas da região. “Temos diferentes projetos para contribuir com o desenvolvimento social das regiões onde temos operações, com foco na geração de valor, sempre respeitando os saberes dos povos tradicionais. Aqui no Norte do Espírito Santo, temos um diálogo muito próximo e de cooperação com as comunidades quilombolas, que estão possibilitando diversas ações e projetos que visam a geração de renda e preservação da cultura, e vamos seguir nesta parceria”, ressalta Narcisio.

Indicação Geográfica

Mais de 30 comunidades quilombolas da região Sapê do Norte, que abrange comunidades de São Mateus e Conceição da Barra, tem um selo de Indicação de Procedência dos beijus produzidos na região. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) concedeu o reconhecimento de Indicação Geográfica (IG) para a região em agosto de 2024.

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O beiju é feito da goma e da massa de mandioca e remonta a uma tradição passada de geração em geração. De acordo com os registros, o beiju é fabricado no Sapê do Norte desde o século XIX, ainda no período escravista, quando comunidades quilombolas se estabeleceram no Norte do Espírito Santo.

As Indicações Geográficas (IG) são ferramentas coletivas de valorização de produtos tradicionais vinculados a determinados territórios. Elas possuem duas funções principais: agregar valor ao produto e proteger a região produtora.

Casa de Farinha de São Mateus

Endereço: Av. Dom José Dalvit, São Mateus/ES

Funcionamento: Sextas-feiras e sábados (6h às 18h) e domingos (6h às 13h)

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* Reprodução de matéria do Jornal do Norte

* Fotos: Reprodução

 

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